Como ajudar no desenvolvimento de uma nova liderança?

Como ajudar no desenvolvimento de uma nova liderança helena kavaliunas

Recentemente, em um trabalho realizado com uma empresa, fui atravessada por uma pergunta essencial que norteou toda a experiência:

Como ajudar no desenvolvimento de uma nova liderança?

Enquanto muitas organizações ainda operam com modelos de comando e controle, heranças de um passado funcional e hierárquico, o presente pulsa com a chegada de novas gerações que pedem conexão, escuta, autenticidade. O mundo corporativo já não comporta mais lideranças que operam apenas por eficiência. Ele clama por líderes que saibam atravessar o invisível, com coragem, clareza, cuidado e convicção.

O desafio é imenso: líderes sobrecarregados, pressionados por resultados, convocados a zelar pela saúde mental de suas equipes. Mas quem cuida desses líderes? Onde repousam suas dores e suas dúvidas? Como eles sustentam, no meio da pressa, o fio tênue da humanidade?

RILKE E A LIDERANÇA COMO ESCAVAÇÃO INTERIOR

Inspirada por Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke, propus um deslocamento:
o líder como um artista da escuta, um escultor de atmosferas, um criador de espaço relacional.

Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o leva a liderar. Pergunte-se na hora mais tranquila da noite: Sou forçado a isso? E, se for afirmativo, então construa sua vida de acordo com essa necessidade.
– Rilke

Essa é a liderança transformacional que acredito e proponho: aquela que se sustenta não no saber pronto, mas na intimidade com o não saber. Que encontra potência na dúvida e beleza na incerteza. Que vive as perguntas — em vez de exigir respostas automáticas.

PACIÊNCIA, SOLIDÃO E O TEMPO DA OBRA

Neste processo de desenvolvimento de liderança, faço uma substituição radical: deixo de lado a lógica do resultado imediato e trago à tona a valorização do respeito ao processo.

Ao contrário da produtividade linear, acredito que a verdadeira inovação emerge da pausa, da escuta, do vazio fértil — e muitas vezes da solidão criativa.

“Hoje, neste espaço, é a única vez em sua jornada corporativa em que não será pedido resultado. Apenas presença, paciência e um profundo respeito pelo processo.”

A solidão, como nos lembra Rilke, não é isolamento. É um laboratório do invisível. Um território onde surgem imagens, insights, visões. É neste lugar que o líder reencontra sua força criativa.

O LÍDER COMO OBRA E COMO ARTISTA

Cada líder é uma obra em construção — imperfeita, única, sensível às marcas do tempo.
Não se trata de representar o lugar que ocupa, mas de ser o próprio lugar.
“Nossas obras não representam o lugar. Elas são o próprio lugar.”

A liderança que proponho é também uma relação com a materialidade da vida. Com os afetos, as texturas do tempo, a fluidez do ar. Não há como separar o líder da natureza. O corpo sente, o coração escuta, a alma conecta.

As obras — assim como os líderes — ganham volume quando aceitam sua imperfeição. Quando acolhem a diferença como potência. Quando assumem a própria temporalidade, sem se dobrarem à pressa do mercado.

“As diferenças é que fazem o mundo interessante, e não as semelhanças.”
“O que nos individualiza é nossa relação com o tempo.”

UM CAMINHO DE VOLTA AO HUMANO

Este processo artístico de desenvolvimento de liderança propõe um deslocamento poético e estratégico:

  • Da ansiedade pelo controle, para a confiança no fluxo.
  • Da reação automática, para a presença responsiva.
  • Da imposição, para a orquestração relacional.

É preciso furar a normalidade. Reencantar o cotidiano. Reprojetar o ser-líder a partir da escuta profunda, da introspecção e da coragem de imaginar novos mundos.

PERGUNTAS POÉTICAS PARA LIDERAR O PRESENTE

  • Que escolhas conscientes você está fazendo hoje?
  • Quais foram suas surpresas no caminho?
  • Que obra você deseja deixar como legado?
  • Como você quer ser lembrado?
  • Pela performance ou pela presença?

Desenvolver líderes, para mim, é criar espaços vivos de escuta, criação e vínculo.
É plantar um futuro onde cada ser humano possa ser — em sua inteireza — uma obra de arte em movimento.

Com muito carinho profundo
Helena Kavaliunas

 

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