“A visita ao ateliê de Helena Kavaliunas é uma viagem a um mundo fantástico de interiores, repleto de mistérios a se revelarem a cada novo olhar.
A arte de Helena é deslocamento, daquilo que existe bem embaixo de nosso olhar, embaixo de nossa pele, embaixo dos céus luminosos. Nas entranhas. Nos recônditos. Nos interditos.
Entre telas, esculturas, fotografias, peças soltas e uma enorme quantidade de materiais – da celulose ao vidro, do fino algodão à madeira, Helena revela o escondido, o transmutado.
Interior e exterior em festa sensorial. Um baile do tato, do toque, do espanto e também deleite. Deleite aos olhos. Deleite ao cérebro e muito mais: ao coração!
Um baile de vida, entre diferentes matérias e possibilidades que nos fascinam e provocam. Convocam nossos sentidos, encantam nossos olhos e percepções. A interpretação é dinâmica, é múltipla e plenamente livre. Permitida. A interpretação de cada um é também dinâmica: pode mudar, pode resgatar e redescobrir. Uma arte que nos permite participar, que nos convoca.
Um universo de vasta possibilidade. Tem pele, têm vísceras, tem mergulho no profundo e no infinito espaço – seja ele microscópico, como uma célula; seja ele grandioso, como um porão, fundações de uma casa que nos remetem aos porões íntimos de cada espectador.
Aqui, entre o espaço e o tempo da célula. Do órgão, dos fluxos intensos e da emoção qualquer um desperta do sono da rotina e reage, palpita, medita, acorda. Sente-se vivo, pois é da vida que falamos. É vida arrebatadora o que se encontra em cada novo ângulo.
Na mistura de peças, na mistura de tentativas. O ateliê é o próprio corpo humano. Aquele que nos protege, que nos envolve, que nos apaixona.
Tudo remete ao fluxo, ao fluxo seminal da vida. Há um quê de extremos, de subliminares. Há um convite à entrega, ao estar dentro, estar fora. Ao mergulhar no microscópico que se agiganta. Mistérios.
Quem somos? Pergunta a obra?
Quem és? Onde és?
O som? Tudo é aparentemente mudo, mas vibra.
Tem voz. Talvez nossa voz, em eco agitado por debaixo de nossa pele.
A obra é entrega plena. É sangue, víscera, papel, pano, foto, corpo, vidraça, gente, pele, gesso, epiderme, derme, signo, símbolo. Um constante molhado. Um mundo original, de detalhes e formas.
Deslocamento. Este é um universo dentro de universos. Uma multiplicidade arrebatadora, arte visceral.
E o melhor de tudo, para nós, simples humanos, é saber que a arte de Helena Kavaliunas está apenas no início de uma fantástica trajetória.
Uma trajetória viva e intensa.”
LUIZ ANTÔNIO GAULIA